Pecuaristas ou Extrativistas

🌿 O Conflito no Acre e o Papel do ICMBio: entre a preservação e a distorção do extrativismo

O ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) foi criado em 2007, após a divisão institucional do IBAMA. Desde então, passou a ser o responsável direto pela gestão das unidades de conservação federais em todo o Brasil.

Atualmente, o ICMBio administra pouco mais de 340 unidades de conservação, que correspondem a cerca de 10% do território nacional, abrangendo parques nacionais, reservas extrativistas, estações ecológicas, entre outras categorias. Ao todo, são 12 categorias diferentes, sendo algumas de uso restrito, como as Reservas Biológicas, onde não se permite qualquer tipo de exploração humana, sendo protegidas exclusivamente pela sua biodiversidade. Outras, porém, são classificadas como de uso sustentável, permitindo a presença humana e atividades econômicas de baixo impacto, como o extrativismo.

🚨 O problema atual: conflito de ocupações no Acre

O que está gerando grande polêmica atualmente é uma ação do ICMBio no estado do Acre, onde o instituto está promovendo a retirada de famílias que ocupam irregularmente uma reserva extrativista.

Essas famílias, segundo os fiscais, não são consideradas extrativistas tradicionais. Em algumas apreensões feitas no local, foram encontradas propriedades com até 160 cabeças de gado — o que descaracteriza completamente a função original da reserva.

O extrativismo, neste contexto, é voltado a famílias de baixa renda que vivem da coleta de produtos florestais não madeireiros, como açaí, cupuaçu, cacau, banana, graviola e outros frutos nativos da Amazônia. Trata-se de uma forma de uso da terra que não exige desmatamento e que mantém a floresta em pé.

🌳 Tradição extrativista ameaçada

A presença dessas famílias deveria estar limitada a áreas com trilhas contendo cerca de 100 pés de seringueira cada — as chamadas “colocações” — onde cada grupo familiar vive de forma autossustentável, dentro de uma lógica tradicional e ambientalmente equilibrada.

No entanto, o que vem ocorrendo é que essas trilhas e colocações estão sendo devastadas para abrir espaço ao pasto. As seringueiras estão sendo derrubadas para a expansão da pecuária — uma atividade proibida dentro desse tipo de unidade de conservação —, comprometendo diretamente o modelo extrativista e o equilíbrio da floresta.

😠 A face oculta de alguns “ambientalistas”

Em meio a essa situação, surge um cenário contraditório: líderes locais que se autodenominam ambientalistas, andando de chinelos de dedo pelas matas, se posicionam contra as ações de fiscalização. No entanto, segundo relatos de servidores ambientais e pessoas ligadas à fiscalização, esses mesmos líderes, quando participam de eventos internacionais, vestem ternos da grife Armani.

Há denúncias de que são, na verdade, grandes vendedores de madeira, mantendo um discurso de proteção ambiental apenas como fachada, enquanto contribuem diretamente com a degradação da floresta.

📉 Comunicação falha e crise de imagem

Apesar da legalidade da ação e do respaldo técnico-ambiental por trás das operações do ICMBio, um erro grave cometido pelo órgão foi a falta de comunicação com a sociedade. A ausência de uma manifestação clara e oficial sobre a real motivação da retirada dessas famílias acabou gerando espaço para desinformação, boatos e manipulações em redes sociais e até mesmo por parte de alguns parlamentares.

O resultado é que a opinião pública, mal informada, se volta contra o órgão ambiental, que está, na verdade, apenas cumprindo seu papel constitucional de proteger o meio ambiente e garantir o uso correto das áreas protegidas.

✅ O objetivo: retirar quem destrói, garantir espaço para quem preserva

É importante compreender que a ação não tem como objetivo prejudicar famílias humildes, mas sim recolocar a floresta nas mãos de quem realmente depende dela para sobreviver — e não daqueles que a utilizam como oportunidade de lucro predatório.

A floresta deve permanecer em pé. A justiça ambiental e a sobrevivência das comunidades tradicionais dependem disso. O ICMBio, apesar de suas falhas de comunicação, está tentando fazer justamente isso: proteger o que resta da Amazônia e assegurar que suas riquezas continuem vivas para as próximas gerações.

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