Surto de gripe aviária em Sapucaia do Sul expõe falhas na prevenção e obriga governo a prestar esclarecimentos urgentes

🦠 Surto de Gripe Aviária em Sapucaia do Sul expõe fragilidades e acende alerta nacional

Mortes no zoológico do RS ligam sinal de alerta para falhas na prevenção e aumentam o temor de uma epidemia em outros estados brasileiros.

O recente surto de gripe aviária (H5N1) registrado no Zoológico de Sapucaia do Sul, na Região Metropolitana de Porto Alegre, reacendeu preocupações sanitárias e ambientais em todo o país. A morte de pelo menos 90 aves — entre cisnes e patos — levou a juíza Patrícia Antunes Laydner, da Vara Regional do Meio Ambiente, a exigir explicações imediatas dos governos estadual e federal. As autoridades têm 48 horas para informar quais providências foram tomadas desde a identificação da doença.

A confirmação do vírus altamente patogênico acontece num momento delicado, em que outros focos suspeitos vêm sendo investigados em pelo menos quatro estados: Santa Catarina, Pará, Tocantins e Ceará.

🔍 A gripe aviária se espalha

A presença do vírus H5N1 em diferentes regiões do Brasil já preocupa técnicos, ambientalistas e órgãos de saúde pública. Os riscos não são pequenos — e os impactos podem ser sentidos em vários setores.

Atualmente, os seguintes estados enfrentam monitoramento intensivo:

  • Santa Catarina – com uma das maiores produções avícolas do país, qualquer foco na região pode afetar severamente a economia e a segurança alimentar;
  • Pará, Tocantins e Ceará – onde a presença de aves migratórias levanta suspeitas de contaminação interestadual.

Caso a doença não seja contida rapidamente, os prejuízos podem atingir:

  • a fauna silvestre, com perdas de espécies e desequilíbrio ecológico;
  • a cadeia produtiva de ovos e carne de frango, base alimentar em muitos lares brasileiros;
  • e, embora ainda raro, há o risco de transmissão entre espécies, inclusive para humanos.

🧩 Onde está a coerência?

O caso do zoológico de Sapucaia do Sul acabou escancarando uma contradição antiga, mas pouco discutida fora dos bastidores técnicos: enquanto criadores comerciais e domésticos são submetidos a exigências rigorosas de biossegurança — como a instalação de telas, controle de entrada, protocolos de isolamento e exames recorrentes — instituições públicas nem sempre seguem os mesmos critérios.

E o resultado, como se vê agora, pode ser desastroso.

“Se o zoológico tivesse aplicado as mesmas medidas cobradas dos criadores, é bem possível que as aves ainda estivessem vivas”, diz um técnico que acompanha o caso de perto, mas pediu anonimato.

⚖️ Justiça suspende movimentações

Diante da gravidade do surto, a Justiça determinou a suspensão imediata de qualquer movimentação, transferência ou descarte das aves sobreviventes até que laudos técnicos e documentos sanitários sejam entregues.

A decisão atende a uma ação movida pela ONG Princípio Animal, que também questiona a realização de um leilão de aves previsto para ocorrer no local.

O certame, inclusive, foi alvo de críticas antes mesmo da confirmação da gripe. O edital, considerado mal estruturado, acabou sendo suspenso por decisão da Justiça — mais uma vez evidenciando o despreparo e a falta de rigor técnico de um órgão que exige tanto dos outros.

⚠️ Dois pesos, duas medidas?

Em tempos em que a Secretaria do Meio Ambiente do RS exige planos de biossegurança extremamente detalhados de criadores, é no mínimo contraditório que as próprias estruturas públicas apresentem falhas tão básicas de prevenção. A crítica, que vem ganhando força nas redes sociais e entre entidades da área ambiental, gira em torno da máxima popular: “casa de ferreiro, espeto de pau.”

Se fosse uma criação privada com 90 aves mortas, o criador provavelmente estaria sendo multado, interditado ou respondendo criminalmente. No entanto, quando o problema parte de dentro da estrutura pública, a responsabilidade parece diluída, como se não houvesse culpados.

🚨 Alerta para o país inteiro

O surto no zoológico gaúcho pode ser apenas o começo de uma situação muito mais ampla. Com o deslocamento natural de aves migratórias e a existência de pontos vulneráveis em diferentes regiões do Brasil, o risco de uma epidemia nacional é real.

O Ministério da Agricultura, o Ibama e as secretarias estaduais de saúde e meio ambiente agora são pressionados a agir com mais transparência, agilidade e integração. É urgente unificar protocolos, intensificar fiscalizações e — principalmente — oferecer mais suporte a quem já cumpre as regras há anos, como os criadores regularizados.

🌱 Conclusão

A gripe aviária já não é mais uma ameaça distante. Ela está aqui, entre nós, e vem testando a seriedade das nossas políticas públicas.

É hora de parar de tratar com dois pesos e duas medidas. O cuidado com a fauna brasileira precisa ser universal, seja dentro de um zoológico ou num criatório rural. Afinal, quando o vírus entra, ele não escolhe se está num espaço público ou privado. Ele simplesmente se espalha.

E nós, como sociedade, não podemos mais fechar os olhos.

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