O retorno do cardeal: uma história de preservação no Rio Grande do Sul
Entre os anos de 1990 e 2015, o cardeal foi o pássaro silvestre mais capturado ilegalmente na região Sul do Brasil. A situação era tão crítica que, em um episódio marcante, a Polícia Rodoviária Federal chegou a deter o mesmo traficante três vezes em apenas quatro dias, apreendendo, ao todo, mais de 1.500 aves, entre cardeais, vivinhos e pintassilgos — todos vivos, sendo transportados de forma cruel e clandestina.
Com sua plumagem marcante e canto melodioso, o cardeal voltou a ser presença constante nos céus e matas do Rio Grande do Sul. Essa ave, que por muitos anos esteve sob ameaça de extinção regional, hoje é avistada em grande número, inclusive em áreas urbanas como Gravataí, Viamão, Alvorada, São Leopoldo e outras cidades da região metropolitana.
Esse cenário positivo é resultado direto de um esforço coletivo iniciado em 2012, liderado pela Federação Ornitológica do Rio Grande do Sul (FEORS). Em parceria com criadores, entidades ambientais e o IBAMA, foram promovidas palestras e ações educativas voltadas ao incentivo da criação legal e responsável da espécie em ambiente doméstico. A proposta era clara: frear o tráfico de animais silvestres e construir uma cultura de preservação baseada na legalidade e no compromisso ambiental.
O trabalho deu frutos. Muitos criadores passaram a seguir as orientações legais, abandonando o comércio ilegal e aderindo a programas de reprodução autorizada, o que contribuiu para a recuperação populacional da espécie.
Hoje, é comum ver cardeais às margens das rodovias BR-290, BR-386 e BR-101, onde eles se alimentam das sementes que caem dos caminhões em trânsito — uma cena impensável há apenas uma década.
“Quando começamos esse trabalho em 2012, sabíamos do desafio que tínhamos pela frente. Mas acreditamos na força do criador consciente e no papel fundamental da educação. Hoje, ver o cardeal de volta à natureza, em pleno voo, é uma vitória de todos nós”, destaca Nelson Arrué presidente da FIC, ex presidente da FEORS.
O cardeal é, agora, um símbolo de resistência, prova de que o compromisso entre criadores legalizados e autoridades ambientais pode reverter até mesmo os cenários mais alarmantes de ameaça à fauna brasileira.